quarta-feira, 4 de abril de 2012

Catatonia (refeita)

CATATONIA

Autor: Fernando Marestoni

Eu estava dormindo quando acordo e olho para os lados, parecia uma coisa estranha ao ver, mas eu via todos os dias a mesma coisa. Via minha cama com o travesseiro próximo a cabeceira com aquele amassado côncavo no meio dele. Minha cama tinha sete rugas na vertical, sete na horizontal e mais sete no cobertor fino que me deram. Já era meio escuro, porque a janela de um só vidro tinha plausivelmente ou não plausivelmente trinta centímetros na vertical e na horizontal. Portanto era pouco o meu contato com os pássaros ou ate mesmo com o ar. Fiz a questão de me levantar para ter um mais contato sólido com as quatro paredes, um teto e o chão. Quando eu tocava a parede sentia com minha língua as nervuras dela causadas pela infiltração do banheiro ao lado.    
Sentei, acendi um cigarro. Olhei para fumaça que sabia que me sufocaria. Com o olhar distante e minha cara de paisagem via as pessoas passarem e me olharem com aquele vestido branco que me deram na portaria.
Um tempo depois, acredito que algumas horas que passaram viam-me como minutos em extrema catatonia.
Olhei para esquerda e vi um senhor de bigode exagerado, ele olhava com a mão no queixo e o dedo polegar no lado esquerdo e o dedo indicador do lado direito, com isso não me saia palavras, somente grunhidos. Num espasmo repentino ele pega meu cigarro e diz:
__ Olá senhor, me chamo Friedrich, alguns me conhecem somente pelo sobrenome Nietzsche, vejo que o senhor ai sentado em sua cama, que ao lado nesse criado mudo que lhe deram, encontra-se A Insustentável Leveza do Ser. Saiba, o conhecimento é única ilusão que o homem se aproximará da estética.
O conhecimento típico do homem, que se assimila com mundo é a sua perspectiva. Aquele homem falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando, falando as palavras que já distorciam em minha mente que nunca imaginei uma pessoa falar tanto.
     Ainda na mesma posição, sentia algo escorrer da minha boca, e ouvia gritos de dor, de medo e de loucura. Ouvia até Napoleão correndo por lá.
Minha mente a mil por hora, com pensamentos desconexos lembrou-se da frase: Os ímpios serão destruídos no fogo  nada restará deles (Malaquias, 4:1).
     Em seguida, vejo uma mulher sensual, loira de olhos verdes, pensei que era uma das deusas do Olimpo acompanhada de Hades e Zeus. Eles me drogavam, amordaçavam-me e amarravam-me. Não entendi o porquê daquilo.
     O que vi aconteceu. Acredito piamente que fui levado por deuses do Olimpo.
E esse êxtase transcendeu-me ao além. Perdido e nunca encontrado por ninguém, que não interessa, sai de mim que não era aquém.
 

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