sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Eu tenho medo do Mala-men

            
              Todos os dias em minha casa, minha mãe e suas amigas juntavam-se para rezar o terço, mas sempre tive medo, nunca gostei muito de religiões, ainda mais depois do dia que fui obrigado a ficar de castigo rezando com aquelas senhoras, que mais pareciam uvas-passas de tão velhas que eram.

            Em certos momentos da reza, eu via aquelas mulheres após dez ave-marias fazerem uma expressão de pavor quando mencionavam algo que se remetia a um monstro, era um monstro acredito, pois toda vez usavam a mesma expressão. Não sei bem o porquê de rezarem tanto como aquelas senhoras, acho que era para arrumar marido, pois eram todas tão chatas e viviam me abraçando, isso era carência ou faltava algo.

            Acabei até ficando instigado do porquê daquela expressão, então participei mais vezes para tentar descobrir, na sétima vez e na sétima bolinha do terço, prestei mais atenção naquelas senhoras, que mais ou menos, se eu não estiver enganado, falavam duzentos e cinquenta e seis letras e quando chegavam às letras duzentos e quarenta e seis que era a palavra: livrai-nos do Mala-men, elas faziam cara de medo, mas antes disto elas pediam perdão dizendo:

___ Perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mala-men.

            Será que fizeram algo para esse bicho, ou estão devendo para ele, ou ele é um ator de filme pornô para elas pedirem a não sei quem, que elas não caiam em tentação? Um tanto quanto duvidoso.

Fui mais sete vezes ouvir, e nada, cansei de tanta análise, precisei perguntar a minha mãe quem era o Mala-men, pois toda vez pediam para se livrarem de desse bicho, será piolho, ou sei lá, daí minha mãe me disse:

___Garoto bobo, não é nada disso que você esta pensando, faz parte da reza, nós simplesmente falamos rápido as palavras  e as juntamos!

___ Mas o que vocês falam?

___ Nada de mais, é simplesmente: Livrai-nos do Mal, amém, só isso.

Depois dessa resposta, sai muito mais aliviado, porque que não conhecia nenhum Mala-men, e nem faço mal a ninguém, aí pude dormir tranquilo. Amém.
AUTOR:         MARESTONI,F.M
   

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um sonho

Eu pressagio a morte, pois está ela aqui.
Olhe ela ai, do seu lado...
Com seu machado levantado, sentada ao seu lado,
Esperando que acabe seu fado.

Ela sussurra para segredar algo que há de vir,
E você que está deitado ai só para se reprimir?
Acha que ela vai te redimir?
Ela não é o padre, nem a madre que irá te iludir.

Levar-te-á só pra te avisar,
Porque logo estarás a passear
Em um vale aonde a dor irá sempre te alcançar

Encontrará tudo e nada,
O belo e o medonho,
Sem chinelo acordaras de um sonho enfadonho.
(MARESTONI,Fernando, Um sonho – 2010)
LEIA DO TITULO E VERÁS O QUE ESTÁ ESCRITO

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A Massa

A massa come o pão amassado que o diabo vomitou,
Engole a discrepância de quem o limpou;
Ah, nobre cidadão plausível, incoerente e massível
Do pão nosso de cada dia, que o diabo vomitou.

Ah cidadão concerne que é mastigado e foge dos livros,
Nem sabes mais quem o deixou,
Sabe o que é o palpável, mastigável,
Crê no Deus que se desloca em caixas pretas de telas polêmicas

Tais são os monstros manipuláveis que esse Deus criou,
Que a divindade dos livros acabou;
Ah massa come o pão amassado que o diabo vomitou,

O menino de folhas que um dia nos olhou
Está triste, molhado, lavado,
Pois tudo já acabou.
(texto de Fernando Marestoni, A massa).

Meu Ego


As vezes é bom esconder o ego dentro do coração,
o silencio que vem com os ventos nos fazem sonhar
e adquirir o saber por que,
faz a mente pensar realmente em quem  você  é,

você é o ego que guardo no coração, é meu saber que me faz pensar
voce é o por que
é a razão de ser, de existir de pensar.
(Marestoni,Fernando,  texto Meu ego)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

FAÇAM SEUS COMETÁRIOS AQUI

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  ALGUM TRECHO DO LIVRO CHAMOU A SUA ATENÇÃO?
  
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Livro- A Saga do Escorpião Negro( PREFACIO)

Livro- A Saga do Escorpião Negro


PREFACIO



Caro leitor, não leve em conta minhas vãs palavras, pois o que escrevi é da vossa mente, quero fazer sua imaginação flutuar. Os personagens dessa obra são compostos através dos frutos de uma imaginação perturbada por seres de outros mundos, pode parecer ridículo esta questão, mas é assim que eles quiseram, e nasceram.

Pensem bem antes de começar pelo primeiro capitulo, pois lá não terás artifícios para um bom entendimento caro leitor. Pode parecer estranho um livro começar assim, mas gostaria de começar pelo principio, mas se eu for necessário vou para o fim e volto para o começo, não que eu propriamente dê rumo da história, seria chato, pedante de minha parte dizer que vou dar esse rumo, sendo que além das personagens, você quem sabe o rumo da historia. Imaginemos o corpo, onde a principal fonte que exerce o domínio dos movimentos é a cabeça. Mas essa cabeça foi formada, ela passou por um processo, a priori ela foi um espermatozóide, hoje ela é essa coisa enorme localizada acima do seu pescoço, mas se for cortada não terá mais nenhuma serventia, a não ser que sirva como um enfeite ou ate mesmo para que as moscas pousem e seu estomago se repugne.

O molde desse livro foi escrito às sete horas, às sete mentiras e sete dedos que serão engolidos pelos vermes que nos corroem.

Livro- A Saga do Escorpião Negro( CAPITULO I)

CAPITULO I


O Monge



Em meados de vários séculos distantes, em uma cidade longínqua de um lugar inexato, habitava um monge ermitão.

Certo dia ele resolve descer das montanhas para não guardar mais o conhecimento para si mesmo, então desce setecentos e setenta e sete léguas a baixo, e se depara com um rio de águas bem claras, ele entra, tira o habito e se banha, mas a solidão o faz começar a pregar para os peixes:

__Enquanto o lobo se instrui em crer em um grande poder, a atenção do seu olho sempre se dirige para o cordeiro, nós caríssimos não sabemos bem o que sabemos, mas só sabemos bem o que temos, e o que temos vendemos.

Após outros sermões, e ele veste e sai novamente sem um rumo certeiro. Euzébio como gostava de ser chamado, sendo que o seu verdadeiro nome era Cleousdossímo, se encontrava nas montanhas em profunda meditação por muitos anos, nem ele mesmo sabia pra que servia aquilo, mas sabia que seria necessário algum dia. Seguindo rumo do vento, ele se depara com um macaco equilibrista na praça, onde observa e melancolicamente começa seu discurso prosaico:

__Existe em todos os homens, a todo o momento, duas postulações simultâneas, uma a Deus, outra a Satanás. A invocação a Deus, ou espiritualidade, é um desejo de elevar-se; aquela a Satanás, ou animalidade, é uma alegria de precipitar-se no abismo, e as nações não têm grandes homens senão contra a vontade delas - assim como as famílias, apenas é igual a outro quem prova sê-lo e apenas é digno da liberdade quem a sabe conquistar.

As pessoas nem olhavam mais para o animal equilibrista, ele tirou a atenção, inclusive do animal que perde o equilíbrio que cai de cabeça no chão, Euzébio preocupado em falar não reparou a queda do animal, ele pega o macaco, e o outro monge que estava presente chama-o:

__ Hei você, temos um defunto aqui do nosso mundo, o que faremos?

Euzébio, para, pensa, olha, reflete e diz:

__Quem não souber povoar a sua solidão, também não conseguirá isolar-se entre a gente; olhando para outro monge eles saem como se não houvesse ninguém ali, pegam um rumo incerto e somem na penumbra da noite.

Livro- A Saga do Escorpião Negro( CAPITULO II)

CAPITULO II

O Jantar



Como vimos anteriormente, os monges saíram na penumbra noturna, mas após andarem muito, cansaram-se e já com fome, acenderam uma fogueira e comeram o macaco que carregavam, deixando a cabeça por ultimo.

O monge vira para Euzébio e diz:

__ Como podemos comer um de nós?

Friamente e com toda a arrogância Euzébio respondeu:

__ Meu caro que o nome não me importa, o sustento vem de nós propriamente dito, devemos nos alimentar através do sacrifício para o senhor, deixemos à cabeça por ultimo, para que absorvamos a sabedoria eterna, pois lá se encontra as portas para o céu.

Indignado com aquelas palavras ele sai desesperado e perturbado, onde encontra escorpiões negros em uma pedra, e tenta come-los, como era de se esperar caro leitor, ele é picado por sete escorpiões, e na agonizante calada da noturna começa a se debater. O veneno se espalha pelo corpo como algo que algo imaginável. Debatendo-se, a mente dele flui como nunca havia fluido antes, então ele começa a ter alucinações, onde vê um cavaleiro de armadura brilhante e negra em cima de um cavalo flamejante rubro negro; o cavaleiro desce de seu cavalo e fica por alguns minutos olhando o monge se debater, ele espera ate o ultimo fio de vida para poder ajudá-lo, então, chama o cavalo, que começa a pisotear a cabeça daquele ser inútil que se debatia no chão como um verme se estrebuchando a beira da morte. O cavaleiro desenha um pentagrama a sete passos do corpo e a sete palmos a esquerda desenha um escorpião e começa a invocar espíritos estranhos do submundo para uma suposta ressurreição. Raios caiam sobre os desenhos que se flamejam como fogo do inferno, escorpiões carregam o corpo desfigurado sobre o grande rei desenhado a sete palmos à esquerda, com isso o corpo é dominado por eles, e ele começa a demonstrar um certo apreço pela vida depois da elevação do seu corpo aos céus.

Levante e anda servo meu, diz o cavaleiro; o monge agora em pé sentindo-se estranho olha para os lados e percebeu algo diferente nele, era um novo ser surgindo, então o cavaleiro sacou e entregou uma adaga, onde o cabo tem um formato de um escorpião, onde contem poderes especiais, o cavaleiro diz:

__ Caríssimo servo, não sois mais como os homens, agora és um ser superior que hás de reproduzir a prole com a marca do escorpião negro, ainda digo, que com força e a proteção da adaga, nunca mais morras, guardas, e terás a proteção da divindade, caminhe com ela e terás tudo que quiseres, não baixes à guarda servo meu, pois assim nosso senhor acompanhar-vos-á, mas se não tomares cuidado a mão de nosso senhor poderá pesar com as pragas prometidas nas inscrições da adaga, guardes como algo muito preciso, pois se perderes sentirá a ira dele, e vossa alma sagrada irá para junto dele, e vosso corpo mumificado será, para que o herdeiro de sua primeira prole reine dignidade, não se esqueça dessas palavras, serão muito úteis daqui para frente, vá e segue em frente.

Livro- A Saga do Escorpião Negro( CAPITULO III)

CAPITULO III
Como Nada Tivesse Acontecido


Com o sol saindo, o monge volta junto ao lugar que ele estava com o amigo, e percebe que Euzébio havia comido todo o macaco e dormido; recolhendo os ossos já com mau cheiro, ele senta e olha para adaga que não sabia o que fazer, e começa com solilóquios indagando-se:

__ O que será isso?

__ De onde vem isso?

Ele grita: Agora quem sou eu?

Como o eco de pavor Euzébio acorda assustado, levanta, corre, volta e diz:

__ O que está acontecendo aqui? Que berros são esses ser estúpido e desprezível? Qual sentido de acordar-me quando sol nem esta firme no céu?

O monge diz para Euzébio:

__ Os contentamentos e descontentamentos são inconstantes, pois na vida ainda à de ver muita coisa, vamos embora.

Achando tudo aquilo estranho, Euzébio concorda e eles seguem o rumo inexato, mas tímido ele pergunta:

__ Caríssimo, que fizeste essa noite, que acordei e não te vi?

O monge responde:

Estás a delirar companheiro, estive a noite toda contigo, simplesmente sai para fazer minhas necessidades, nada mais.

Euzébio achando muito estranho diz:

__ Devias estar muito apertado, pois demoraste.

O monge:

__ Por que preocupas com quem o nome não importa?

Euzébio:

__ É...

O monge:

Sou incógnita em constante inércia para alguém assim, mas se queres saber nem eu mesmo sei o que me passou, acredito que uma grande diarréia.

Euzébio:

__ Sendo assim tudo bem, a verdade está escondida nos frascos cintilastes dos mares.

O monge:

__ Exato, o senhor nos manda a declarar a paz e gloria dele.

Euzébio: sim, então vamos.



Assim caminhavam com os lentos inconstantes, pensantes, maçantes passos da hora do dia.

Livro- A Saga do Escorpião Negro( CAPITULO IV)

CAPITULO IV




O Monge Cego



Caminhando, eles encontram um emaranhado de plantas, os sábios e perspicazes monges adentram sobre um denso bosque, a principio sombrio, fechado, melancólico; eles com certo medo ficaram, pois de tão quanto cerrado era o bosque, que tudo se tornava escuro, a luz mal penetrava sobre aquela densa camada de arvores e folhas velhas, olhavam sobre as raízes que eram grandes; assustados e apreensivos ficaram, lugar temeroso, macabro, ar de um grande inferno negro manchado pelo pecado e a dor que desatina sem doer no peito dos humildes que se rebaixaram aos prazeres de um infortunado mundo podre.

Euzébio era quem conduzia a caminhada, e seguiam como se tudo desse para ver. Na jornada ele encontra um galho seco que serviria como cajado para conduzi-los pelo bosque, e diz:

__ Não tenhas medo, estou contigo! No Oriente vou buscar tua semente e do Ocidente vou reunir a tua gente.

Com andar de desbravador, ele conduz o monge e os seres que os rodeavam sem verem, cansado e perdido ele senta sobre a raiz de uma arvore e olhava para frente, onde com o pouco de visibilidade enxerga o rosto de uma pessoa, uma forma que brilhava sobre a inerte escuridão e solidão do lugar; então ambos saem correndo em busca do que viam; próximo à formosa luz que viram, Euzébio tropeça e cai, segue o monge que descobre que sobre a luz brilhante mostrava-se uma pessoa, e Euzébio caído gritava de longe:

__ O vinho que alegra o coração do homem, o óleo que realça o brilho do rosto e o pão que sustenta o seu vigor. Israel enviou então o mensageiro a Seon, rei dos amorreus, para lhe dizer: “Deixa-nos atravessar tua terra. Não nos desviaremos nem para os campos nem para as vinhas, nem beberemos a água dos poços. Seguiremos pela estrada real, até termos atravessado teu território”.

Enquanto ele gritava, o monge olhava de baixo para cima como um cão que farejava algo conhecido, o ser se apresentava como um deles, o monge indaga:

__ Quem sois?

__ De onde sois?

__ O Que fazes aqui?

O ser responde:

__ Me chamo Samael, sou um monge do monteiro que se localiza depois da floresta das virgens monjas, desci das montanhas, vim aqui a mando de meu superior, ele me escolheu para guiar-vos para lá, nas ruas, nas vilas, corre rumores que dois monges em busca da sabedoria estavam por perto; por isso estou aqui, mas sou cego e irei conduzir-vos por que é o senhor me escolheu.

Limpando-se chega Euzébio, com aparência de cansado, e olha para os olhos de Samael e vê que os olhos dele eram todo esbranquiçado, e diz:

__ Ouvi de longe a conversa, eis que o senhor manda vir a este povo que é cego, embora tenha olhos perfeitos, manda vir este povo que é surdo embora tenha ouvidos.

Samael guiado por alguma força que os dois não sabiam o que era, andava na frente levando-os para algum lugar; os dois seguindo ele se perguntavam como aquilo podia acontecer, um cego que aparece do nada, que nada via, onde só ouvia e sentia, os conduzia.

Guiados por um sentimento cego e estranho, perguntam-se sobre o caminho desconhecido, o monge vira para Euzébio e diz:

__ O ouvi dizer sobre uma floresta de virgens monjas, onde poderemos comer algo e saciar nossa fome.

Euzébio responde:

__ Claro, nossa fome com tempo aumenta, pois nada mais nos sustenta do que ver sagradas virgens monjas atentas.

Livro- A Saga do Escorpião Negro(em andamento)


Livro- A Saga do Escorpião Negro





CAPITULO V



A Floresta Sagrada


domingo, 17 de janeiro de 2010

pierrot de andas


Pelos meus delírios e espasmo incandescentes da tortura da dor que ontem defenestrara minhas andas, por isso não alcancei nem o céu, e nem o inferno. (Fernando Marestoni).
Esboço

“Lacrimosa”, a antecipação da melancolia de nosso século: comentário estético e psicossocial à obra Elodia.

Conheci a obra “Elodia”, do grupo alemão Lacrimosa, quando já não era nenhuma novidade para aqueles ligados ao desenvolvimento da estética musical gótica. Isso foi no alvorecer da década zero. À ocasião, senti um furor intenso por finalmente ter contato com um trabalho musical que aliava a grandiosidade wagneriana a uma boa levada heavy metal.

Nunca igualado por trabalhos posteriores – ainda que “Fassade” seja um trabalho memorável – “Elodia” traz letras que poderiam descambar para o melodramático se não fosse a grandeza de espírito revelada na construção da harmonia. Simples, beirando o infantil em alguns momentos, extremamente complexa em outros, esta obra traz a erudição para a música pop. Sem abrir mão da mais autêntica força da música erudita, consegue fazer-se compreensível, sensível e trágica, para leigos e estudiosos.

Podem falar dos artistas em que Tilo Wolff bebeu. E por acaso uma obra de arte nasce do nada? De maneira alguma. Mas uma obra de arte transcende sua época quando consegue soar cordas do humano que vão além do momento sóciopolítico. Lacrimosa bebe de fontes como Antonio Bartoccetti, de Antonius Rex e Jacula, trabalhos que mereceriam ser melhor valorizados por aqueles que dizem assumir uma “estética do sombrio”; Black Sabbath, em seus melhores momentos de magia negra e ousadia – no início dos setenta do século passado; e, dentre outros que seria necessário citar (Alice Cooper, Grimson, e, até mesmo, Led Zeppelin – vide sua ligação com o pensamento de Alesteir Crowley e as músicas instrumentais intermináveis), Lacrimosa bebe inclusive nas origens do também alemão Kraftwerk ­– o grupo Organisation. Tilo Wolff nunca negou seu intenso contato com a música eletrônica: não aquela estupidez de festinhas, mas a música eletrônica industrial, sombria e espessa como petróleo puro.

Este petróleo movimenta cada faixa de Elodia, com sua construção verdadeiramente onírica: ouvir “Sanctus” é como estar naquelas noites em que não sabemos se o que nos vem à mente é pesadelo ou sonho... A faixa magistra da obra é um hino de louvor ao deus cristão que se converte num grito de melancolia que conclama os infernos a novamente revoltarem-se contra aquele que criou os céus e a desgraçada terra...

Toda construção da obra é permeada por vozes que se insinuam, às vezes liricamente, às vezes roucas e gritadas, no melhor do doom metal, sem deixar-se levar por uma agressividade barata. Em nenhum momento Elodia apresenta uma poética agressiva. É extremamente sutil: mesmo quando dá seus maiores gritos de repulsa a tudo àquilo que sabemos o que é (sim, sabemos...), usa-se de uma doçura amarga que faz o mais duro dos corações parar de bater por um instante...

Dentro de uma análise psicossocial, Elodia antecipou o advento, na década de zero, de toda aquela estética sombria que já vinha sendo preparada para eclodir, nos oitenta com o gótico “raiz”, nos noventa com o grunge... Ainda que, para nosso pesar, dessa estética faça parte a tristezinha infantil dos “emos”, a grande produção do grupo Lacrimosa é obra-mater que antecipou aquilo que seria o século XXI: um século, até agora, dominado por profundas incertezas, onde nos vemos perdidos entre a necessidade de afeto e o mais selvagem individualismo. A estética emo nada mais é a solidão que, de tão doentia, torna-se infantilizada.

Lacrimosa, ao contrário desse desamparo de criança desmamada, traz a dor trágica daqueles que viveram o suficiente para saber que a vida não precisa ser assim... mas nossa sociedade está fazendo com que seja.

Pensando na obra subsequente de Lacrimosa, citada aqui, eu pergunto: haverá uma Morgen Danach (manhã seguinte) para nós?

Cedi esse espaço ao meu grande amigo Luiz Bosco S. Machado Jr., psicólogo, autor deste texto.